Paro e olho o mar. Porquê?
Nem eu sei ao certo hoje deu-me para pegar no carro e estacionar bem de frente para o mar, acendo um cigarro tiro os óculos e deixo-me estar assim, apenas a contemplar e a tentar tirar partido do que ele me diz, se é que me vai dizer alguma coisa.
Olho e vejo que fiquei preso no tempo, num tempo em que tudo corria um pouco como agora, ao sabor da maré.
O mundo corria e eu corria com ele agora o mundo continua a correr e eu apenas quero correr para ti.
Não sei, continuo a perguntar-me se devo, sabendo de antemão a resposta.
Lembro o passado, um passado não muito distante onde a noite era companheira, as borgas os amigos e as amigas, paletas de cores que me rodeavam e faziam de mim fruto de desejo, dizem elas que sou mel.
Que sabem de mim? Que sei eu? Quem sou afinal?
Numa dessas noites no meio de uma qualquer festa perdido no cheiro das gentes da noite nos olhares sedentos encontro o teu olhar sem me dar conta fixo esse olhar.
Transbordavas doçura. Sorrias enquanto desviavas o olhar, continuavas a conversar animadamente com os teus amigos enquanto eu tentava fazer o mesmo.
Não consegui pura e simplesmente não consegui, alguém tentava desviar o meu olhar através de um beijo, através de uma qualquer frase Vamos sair daqui.
Virei a cara para olhar para mais uma daquelas amigas especiais da noite, era bonita ou como diria a qualquer um dos gajos que me acompanhava era boa, um pedaço de mau caminho para qualquer homem.
Sorri na tentação de lhe dizer que sim e quando volto a olhar já tinhas saído escusado será dizer que acabei a noite na cama de um hotel, perdido num corpo que não era o teu, que eu não queria que fosse, hoje sei isso.
Não eras um corpo para usar eras, és um corpo onde aporto onde me perco a naufragar onde é que já ouvi ou li esta frase? Que importa.
Mas quis o destino, sim quis o destino que as coisas não ficassem por aquelas trocas de olhares. Voltei a encontrar-te através de amigos comuns sucedendo-se alguns jantares e a inevitável troca de números de telefone. Finalmente o teu número quando eu menos esperava, ao chegar perto da moto lá estava um papel com o teu nome, um beijo e o numero.
Já não conseguia tirar-te da cabeça, começava a pensar em ti a toda a hora, e a vontade era só uma, transformar as horas e dias e deixar-me perder nos teus braços, queria-te para mim, não me bastavam olhares, jantares e beijos fugazes. Queria fazer-te minha.
Segui-se um café depois outro e mais outro, jantamos á luz de velas e o tempo foi passando sem que desse por isso. Como tudo parecia tão simples, não fosse tu namorares com outro homem que não eu, naquela altura não importava, hoje sei que deveria ter importado.
Digam que é da idade eu - Um "gajo" a caminho dos 30 em busca da Estabilidade -, caramba mas que raio de estabilidade é que eu criei desde o dia em que fiquei a imaginar que subias ao altar com outro que não eu.
Parecia um miúdo, as lágrimas teimavam em cair
só de pensar que te deixei escapar, entreguei-te a outro homem e agora vivo numa luta para conseguir forças e lutar contra o futuro que não conheço que sei incerto.
Lembras-te da data em que tudo aconteceu? Perco-me enquanto olho o mar, acreditas? Não me lembro de datas apenas de ti do teu corpo macio, do teu sorriso dos teus beijos ouço ao longe as ondas que vem beijar a areia assim fui eu, aos poucos caminhando pelo teu corpo, por entre beijos lânguidos, por entre um desejo incontido, por entre suspiros e gemidos de um prazer tão real que hoje olhando para trás me parece irreal.
Como és tão mulher hoje sei que falhei ao deixar-te subir ao altar naquele dia em que a chuva, passados estes 4 anos, entre amigas e namoradas noites loucas. Sempre soube no fundo que não te tinha esquecido, sempre soube que queria voltar ao meu porto de abrigo e no dia que nos voltamos a encontrar finalmente tive essa certeza.
Assiste-me hoje a vontade de voltar atrás e retomar o que tínhamos sabendo porém que não vai ser fácil, a idade mudou a vida mudou e o mundo transformou-nos, mas ficar assim não dá.
Olho novamente o mar, ponho os óculos inspiro mais uma vez, a brisa torna-se cada vez mais fria, está na hora de voltar ao carro, está na hora de te ligar saber se estás livre para estar comigo, quero que isto acabe o quanto antes, mesmo sabendo que tudo isto está muito longe do fim.
Sinto-me preparado, pergunto-me se tu estarás
(Qualquer semelhança como uma historia real é pura ilusão...será?)
Escrito por Maria - oteudoceolhar
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